Celorico de Basto, porque vale a pena.

Vitor-Resende

Cedo percebi que o mundo artístico, no que diz respeito às artes plásticas, não era bem-vindo por estes lados, ou pelo menos, pouco apreciado. Não existia em lado nenhum… E este seria um dos motivos que me iria fazer ficar.

Nesta terra verde, de verdes de excelência, de terreno montanhoso e de curvas e mais curvas, onde a natureza ainda é a Rainha, estou a implementar as Artes Plásticas, porque acho que vale a pena.

Cheguei a este território em 2016, por casualidade da colocação docente. Fui colocado num horário temporário, em substituição, no Agrupamento de Escolas de Celorico de Basto, o único na região, na Escola Básica de Gandarela de Basto… e por cá fiquei.

Dizem que é terra pobre… entendo que um povo que não tenha a Saúde, a Educação e a Cultura como prioritários, esses sim são pobres.

É verdade que pensei em ir embora, mesmo que não soubesse onde era o “embora” …, mas após uns meses de trabalho e de convivência com os Alunos e demais população escolar, a minha opinião e vontade mudaram e passei a ser um de cá.

Apresentaram-me a Festa Internacional das Camélias e solicitaram aos professores a colaboração na decoração e nos trabalhos artísticos a figurar nesse evento.

A nossa proposta foi a realização de um painel de azulejos coletivo, onde iria figurar uma Camélia como elemento central. Este Projeto envolveu toda a comunidade escolar e foram realizados cerca de 700 azulejos de cartão, montados segundo um desenho de uma Camélia na parede da sala de aula, que ainda hoje se encontra lá.

Um painel maravilhoso que esteve exposto num dos muros da Praça Albino Alves Pereira.

Este foi o início da Criação Artística regular em Celorico de Basto.

Primeiro, surge a Erre Cerâmica, a primeira unidade produtiva artesanal de Celorico de Basto, na área da cerâmica e da azulejaria, que com o apoio Municipal da altura, sob a Presidência do Doutor Joaquim Mota e Silva e Vereação do Professor Carlos Fernando Peixoto, desenvolveu várias oficinas artísticas no Centro Escolar da Gandarela junto de centenas de crianças. Depois, por consequência dos excelentes resultados, o Município decide abrir o Atelier Municipal de Cerâmica e neste implementar o Projeto Inovador Integrado de Combate ao Insucesso Escolar, em parceria com a Comunidade Intermunicipal do Tâmega e Sousa – PIICIE-CIM-TS, onde fui o professor responsável, em funcionamento até agosto de 2022. Deste projeto surgiu a primeira obra de arte urbana de Celorico de Basto, na área da azulejaria, premiado pelo SOS AZULEJO.

O Painel Coletivo de Azulejos – Camélias de Celorico de Basto, realizado por todos os Alunos do AGRCBT, professores, encarregados de educação, auxiliares de ação educativa e outros artistas convidados, num total de aproximadamente 2000 participantes. Painel este, que se encontra colocado na Ecopista da Tâmega, junto à Estação Ferroviária de Celorico de Basto.

No ano de 2019, surge a necessidade de criação da TEQUE – Associação Cultural Artística, que tem vindo a fazer um trabalho de excelência na implementação das artes plásticas.

A TEQUE – Associação Cultural Artística, tem como fim a criação artística, o desenvolvimento e promoção sociocultural, através do fomento das práticas artísticas e pedagógicas, da sua divulgação, da realização de eventos e de turismo criativo, assim como o estudo, preservação e divulgação do património histórico e cultural em todas as suas vertentes, e das artes e ofícios tradicionais. A TEQUE é uma associação sem fins lucrativos e o seu objeto é o de conceber, organizar, desenvolver, implementar e divulgar projetos culturais, sociais, artísticos e pedagógicos no âmbito transdisciplinar e intercultural.

Ao longo dos anos, temos vindo a realizar Oficinas Artísticas Experimentais, no Atelier Municipal, cedido para o efeito pelo atual Presidente José Peixoto Lima após o término do projeto de combate ao insucesso escolar, em escolas e Juntas de freguesia nos mais diversos locais do Concelho. Somos os responsáveis pelo projeto ART WALL, um projeto jovem de arte urbana, que teve o seu início na Escola Básica de Gandarela de Basto, com vários trabalhos realizados no território.

Temos em parceria com o AGRCBT a implementação do PNA e outras atividades artísticas, com a Quinta da Raza, o Projeto SAUD´ARTE, que tem como compromisso proporcionar aos seus colaboradores e à comunidade local uma melhor saúde, qualidade de vida e bem-estar.

No âmbito do nosso plano anual de atividades, temos com o apoio do Município, várias Oficinas Artísticas Experimentais, e participamos em vários Eventos Culturais Municipais.

No ano de 2023 demos início aos cursos de ensino não-formal de Pintura, Desenho, Cerâmica e Mosaico, uma espécie de ano zero para dar início ao processo de criação da Escola das Artes.

Precisamos de todos, e para todos trabalhamos as Artes. Aproximam-se novas parcerias, com a Biblioteca Marcelo Rebelo de Sousa, com outras Quintas e Adegas de Excelência como a Quinta de Santa Cristina, e Casas de Alojamento Local como a Casa Dalevada, e certamente outros se irão associar a nós… dando início ao Turismo Criativo na Região.

Estou perfeitamente convencido que estamos no bom caminho. Que a seu tempo as Entidades Competentes irão entender que somos uma entidade de interesse cultural local e daremos início ao reconhecimento de interesse publico.

O AGRCBT está a fazer o seu papel. O ensino da disciplina de Educação Visual no 3º Ciclo vai regressar ao regime anual, de onde nunca deveria ter saído, e pela primeira vez vai ter na sua oferta educativa para o ensino secundário a área das Artes Visuais. E a TEQUE será sem dúvida uma parceira para o desenvolvimento e implementação das Artes no Agrupamento.

Falta-nos apenas um lugar digno, um local com as condições necessárias para exercermos o Ensino e a Criação Artística com espaço para todos, para turmas, para grupos de crianças e jovens, para os familiares e encarregados de educação.

Primeiro, é preciso querer…. Estou certo que o Município irá contribuir para o sucesso da TEQUE e com isso fazer um bem maior ao serviço da Cultura e da Educação.

Porque vale a pena…

Professor Escultor Vitor Resende

Professor no Agrupamento de Escolas de Celorico de Basto

Presidente da TEQUE