Pintura e literatura relacionam-se em perfeita sintonia na exposição “Estava escrito nas manchas”, que abriu ao público no passado sábado, dia 10 de maio, na Casa da Terra. Na cerimónia de inauguração falou-se da arte de pintar, da arte de escrever e dos autores, a pintora Filomena Bento e a escritora Betina Ruiz.
A exposição, que estará patente na Casa da Terra até 10 de junho, conta com a curadoria da artista plástica Carminda Andrade e foi organizada pela Associação Andorinha Astuta, com o apoio da Câmara Municipal de Celorico de Basto.
Este momento cultural procura, segundo Carminda Andrade, “reforçar a importância do associativismo na promoção cultural, na valorização da arte e das diferentes manifestações artísticas. Esta forma de elevar a cultura, de a reproduzir, de a dar de forma efetiva à comunidade é o mote do nosso trabalho na Andorinha Astuta”.

A artista plástica acrescenta que, “felizmente, temos conseguido alcançar as metas a que nos propomos, sempre em articulação com o Município, o sr. presidente da Câmara e a sra. vereadora da Cultura, que muito nos apoiam e incentivam. E estamos completamente imbuídas no espírito criativo, com o objetivo de fomentar o enriquecimento cultural da nossa comunidade através das artes e do património”.
A cultura é “a força motriz de uma comunidade desenvolvida e temos que ser capazes de olhar para quem quer fazer cultura, para quem quer promover a arte e ajudá-los a fazer o caminho. A Andorinha Astuta tem feito o seu caminho, um caminho de resiliência, com criatividade e muito dinamismo. Esta exposição é sinal da capacidade promotora de cultura e de arte que esta associação, impulsionada pela curadora desta exposição, tão bem promove e incentiva à sua efetivação. Bem-haja pelo trabalho que desenvolvem”, disse o presidente da Câmara Municipal de Celorico de Basto, José Peixoto Lima.

Como curadora da exposição, Carminda Andrade parafraseou Martim Sousa Tavares, com uma frase do seu livro “Falar piano e tocar francês”: “Se não gostas de arte do teu tempo, provavelmente não gostas do tempo em que vives” e ainda “a arte muda o indivíduo e o indivíduo muda o meio”. Agradeceu à artista Filomena Bento, colega de trabalho por quem nutre especial afeição e respeito pelo trabalho “soberbo que realiza e pela forma como nos transporta para emoções e sensações distintas, apenas a olhar para uma tela”.
A curadora aproveitou para ler um texto de Filomena Bento, escrito em 1994 e que retrata a pintura na sua própria perspetiva: “Para mim, pintar é expor alma, é virar-se do avesso e encontrar coisas”. Esta exposição é composta por duas partes, a 1.ª parte chama-se “Estava escrito nas manchas”, um conjunto de pinturas feitas a partir de 2019 que “não têm um estudo prévio, que não têm um desenho, são desenhadas à medida que nascem, partem de manchas aleatórias, ou semi-aleatórias, pinturas em que é preciso olhar para as manchas e descobrir coisas. Quando descobrimos alguma coisa, estamos a expor o que pensamos e o que vem de dentro de nós, por isso aparecem as coisas mais bizarras, estranhas que possam imaginar, que os seres humanos de confrontam naturalmente. No final, há dois trabalhos sobre jardins, por isso é que digo que sou um jardineiro velho”.

A acompanhar esta exposição está o livro “MARI”, de Betina Ruiz e ilustrado por Filomena Bento. Betina Ruiz é uma escritora brasileira a viver em Guimarães, que estudou ao pormenor as Cartas Portuguesas de Mariana Alcoforado, um texto que vê como uma herança: “a descoberta das cartas, dos textos poéticos. A minha paixão foi perceber como é que uma mulher se expressa, um texto escrito originalmente em francês, publicado sem o consentimento da autora, que deu margem para que se acreditasse que havia uma espécie de portuguesa reprovável. Este livro foi um desafio e é uma espécie de herança do trabalho desenvolvido com a Filomena a retratar os textos em pinturas”.
A exposição estará patente até ao dia 10 de junho e contará, ao longo deste período, com uma série de atividades. No dia 19 de maio, a artista plástica Carminda Andrade promove uma visita guiada e uma aula aberta sobre o reconhecido pintor Vincent van Gogh. No dia 22 de maio, a pintora Filomena Bento promove, das 17h00 às 18h00, uma aula aberta sobre “Luzes e sombras do Barroco” – Caravaggio e Vermeer. Das 16h00 às 17h00, decorre uma aula aberta sobre as Cartas Portuguesas de Mariana Alcoforado, amplamente estudadas pela professora e escritora Betina Ruiz. Momentos que exaltam a arte e a literatura do século XVII.

No dia 23 de maio, a “Arte e a Matemática” misturam-se nesta exposição. A pintora Filomena Bento associa-se aos professores de matemática do Agrupamento de Escolas de Celorico de Basto, Filomena Esteves e Jorge Vasconcelos e promovem uma aula aberta para a comunidade e para os alunos do 11.º ano do curso de Artes Visuais sobre a “Arte e a Matemática”. Já no dia 26 de maio, das 15h00 às 18h00, a Universidade Sénior de Celorico de Basto promove uma tarde aberta à comunidade com duas aulas, uma de pintura e outra de música.
Todas as segundas feiras, entre 10 de maio e 10 de junho, a curadora Carminda Andrade promove visitas guiadas das 17h30 às 20h00.