A Festa do Livro, um verdadeiro hino à cultura e à palavra, recebeu no passado sábado, dia 5 de abril, o chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa, que encerrou o evento, mostrando-se agradado pela qualidade imprimada.
O evento destacou com veemência a palavra, a criatividade e a imaginação, proporcionando experiências enriquecedoras aos que desfrutaram da oferta cultural. Nos tempos de autarca em Celorico de Basto, Marcelo Rebelo de Sousa criou a então denominada Feira do Livro: “Quando eu era autarca neste concelho, entendi, porque sou fanático de livros, fanático da palavra, que era necessário lançar em Celorico de Basto uma Feira do Livro”, explicou.
O presidente da República recorda que essa feira “deu a conhecer jovens autores. João Tordo veio cá a medo, não queria vir, era o seu primeiro livro, hoje é autor reconhecido; o presidente Mário Soares veio aqui lançar um livro; a escritora Alice Vieira, aclamada poetisa e escritora de livros para a infância e juventude; Isabel Alçada e Ana Maria Magalhães, com coleções intermináveis que percorreram várias gerações”.

“Depois, também vieram os sucessos do showbiz do momento: Fátima Lopes, Fernanda Serrano, que publicavam livros de um estilo diferente, autobiográfico, beneficiavam do prestígio que tinham da televisão”, memórias que o chefe de Estado lembrou com nostalgia. “Facto é que esta iniciativa pegou, tem vindo a melhorar e não é fácil, porque exige a colaboração das editoras. Felizmente, hoje, a APEL, associação que representa os editores e livreiros, ajudou imenso, com um grande sucesso das feiras do livro. O mesmo se aplica aqui, com os mais jovens a arrastar os mais velhos para ver e comprar livros”.
O presidente da República presidiu ainda à cerimónia de entrega dos Prémios do II Concurso Literário de Poesia e enalteceu a qualidade dos poemas a concurso: “Os do ano passado eram bons, mas os deste ano são muito, muito bons, os três premiados e as menções honrosas. Parabéns pelo concurso e pela forma criteriosa como selecionaram os vencedores”.

A palavra é e será sempre o grande destaque desta Festa do Livro, apesar de toda a envolvência cultural. E, num período onde se vislumbra um ressurgimento crescente das ditaduras, Marcelo Rebelo de Sousa diz que é otimista: “Acho que a palavra vai vencer sempre. Infelizmente vivemos um tempo e subida de ditaduras, há de longe mais ditaduras no mundo que democracias. A partir de 1985 houve uma subida do número de democracias e descida do número de ditaduras”.
“Nos últimos anos, assistimos ao fenómeno inverso, o aumento da intolerância, o aumento da irracionalidade, da não aceitação do diferente do outro e da outra, da liberdade de pensamento, de forma mais aberta. Este concelho está a fazer a luta certa, e esta festa e este concurso são bons sinais, a poesia é sempre um bom sinal”, ressalva Marcelo Rebelo de Sousa.

A Festa do Livro procurou ser um hino à cultura, com a interligação perfeita entre literatura e música. José Peixoto Lima, presidente da Câmara Municipal de Celorico de Basto, enalteceu toda a dedicação dos funcionários da autarquia e do patrono desta Festa do Livro, Afonso Valente Batista, “pela forma distinta de enaltecer a cultura local”.
“Encerramos hoje a Festa do Livro. Durante uma semana, desenvolvemos um conjunto vasto de atividades onde envolvemos a comunidade, essencialmente a nossa comunidade educativa. A nossa Festa do Livro é uma oportunidade de nós promovermos a cultura local e nacional, porque uma terra sem cultura é uma terra sem alma, e Celorico de Basto respira cultura com todo o seu esplendor e graciosidade”, continuou o autarca.

No que respeita ao Concurso Literário de Poesia, José Peixoto Lima ressalva o facto de nesta segunda edição se verificar “uma participação mais expressiva e uma qualidade demarcada. São estas ações que iremos continuar a projetar em defesa da nossa cultura local, da nossa identidade, em ambientes propícios para a troca de ideias, discussões e debates, que fomentem a democracia e o desenvolvimento integral da nossa comunidade”.
A Festa do Livro contou com uma panóplia de iniciativas para os mais jovens, com apresentação de livros, momentos de estórias e leitura e, para os mais crescidos, com autores locais e nacionais a apresentarem obras literárias, com a inclusão perfeita da música na iniciativa “À conversa com…”, com compositores e cantores que falaram da “escrita para a música”.
O II Concurso Literário de Poesia de Celorico de Basto, que contou com 76 participantes, é dos eventos mais simbólicos integrados nesta Festa do Livro e que Afonso Valente Batista diz tratar-se de uma realização com visão e participação nacional, “o que de alguma forma é suporte na dinamização e concretização da imagem de Celorico”.

O patrono da Festa do Livro e júri da Concurso Literário de Poesia, deu conta dos pormenores desta iniciativa: “Tivemos muitos poemas, de poesia livre e poesia rimada. Na poesia rimada tivemos bons poemas, mas não atingiram o grau que é exigido, a poesia rimada exige um grau de conhecimento profundo da língua portuguesa, com palavras mais criativas. Na poesia livre, tivemos um conjunto de obras bem conseguidas que revelaram, em alguns casos, o domínio do vocabulário, da imaginação e da criatividade”.
Falou da importância da palavra, do tempo em que a mesma era subversiva, nas ditaduras: “Hoje, felizmente, vivemos tempos de grande privilégio, grande fortuna e grande riqueza da palavra, um instrumento que devia caminhar para a construção do homem novo, da concórdia e paz e esta a ser desviado para fins que todos nós sabemos”.
Relativamente aos prémios do II Concurso Literário de Poesia de Celorico de Basto, o primeiro prémio foi entregue a Nuno Garcia Lopes, autor do poema “Segundo Livro de Géneses”. O segundo prémio foi para João Moreira, com o poema “Liberdade 1” e o terceiro prémio foi para Vitória Batista, com “Visão Noturna”. Estes são autores provenientes de várias localidades do país. Foram ainda entregues três menções honrosas aos autores dos poemas “After Life Death”, “o Canto” e “Ode à cidade que trabalha”, todos autores celoricenses.

A Festa do Livro encerrou oficialmente com o concerto da Orquestra Sem Fronteiras, sob a direção de Martim Sousa Tavares com a mezzo-soprano Rita Morão Tavares, que apresentaram um concerto único a uma imensa plateia ávida por este momento.
O concerto começou “na escuridão”, com a intensa “Sinfonia al Santo Sepolcro” e o comovente “Stabat Mater”, de Antonio Vivaldi. Depois, com Bach, a música levou os presentes da escuridão para a luz, com a “Ária da Suite n.º 3” e a cantata “Widerstehe doch der Sünde”.