Chegou ao fim a residência artística “à mesa”, que ao longo de uma semana ocupou a Casa da Terra e a Praça Albino Alves Pereira, em Celorico de Basto, com momentos de partilha, criação e escuta coletiva. O projeto culminou com um concerto intitulado “de faca e garfo”, uma performance original que cruzou música, histórias e expressões populares.
A residência teve como objetivo interagir com a comunidade local, recolhendo rituais, superstições e tradições de forma informal, através de conversas em torno da mesa — o lugar simbólico da escuta e do encontro.
O coletivo artístico foi composto por Teresa Costa, flautista com um repertório diverso; Patrícia Pinheiro, oboísta e contadora de histórias; Inês Luzio, artista ligada à música, teatro e dança; e Ema Ferreira, que explora a interseção entre som e multimédia.
“Este concelho é particularmente interessante por ainda existirem, visíveis na vida das pessoas, tradições muito vincadas e que marcam de forma clara a identidade local”, afirmou Patrícia Pinheiro, acrescentando que, apesar de alguma reticência inicial, a comunidade acolheu o projeto com abertura e envolvimento: “Reconheço que existe algum preconceito em falar de certas tradições, mas nesta terra foi fácil interagir.”
A residência “à mesa” procurou desenvolver práticas colaborativas e interdisciplinares, valorizando o Portugal profundo e promovendo o diálogo entre arte e território. Foi um exercício sensível e atento às marcas culturais que persistem na vivência das pessoas, e que merecem ser reconhecidas e celebradas.
A originalidade e pertinência do projeto foram evidentes, mostrando como a arte pode ser ferramenta de escuta, documentação e valorização das raízes locais — tudo isso, com os pés bem assentes na terra e o coração “à mesa”.